Translate

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Parem de vez com as generalizações !


Estou cansada desta sociedade de pessoas que generalizam tudo e todos. E estou simplesmente cansada que ataquem os muçulmanos pelos males que os extremistas têm feito. 

No 11 de Setembro de 2001 eu era uma criança. E a criança que eu era cresceu rodeada de tantas outras crianças que acreditavam que os maus da fita eram aqueles de barba comprida e turbante ou aquelas mulheres de burca ou hijab...O mal da nossa sociedade é haver pais que impõem aos seus filhos a sua própria opinião. Eu cresci com um lema imposto pelos meus: que todos somos humanos e que os maus vão sempre existir, mas que não são todos iguais. Mas entendo, ao crescerem assim, deram origem a pessoas adultas quadradas, que não pensam por elas e que acham que acabar com todos os muçulmanos do mundo resolve toda a questão.

Este ano eu tive a possibilidade de conviver durante uma semana com muçulmanos e não muçulmanos, num training que realizei no passado mês na Tunísia. Convivi com muçulmanos do Egito, da Tunísia, do Líbano e da Jordânia e não muçulmanos da Itália, Malta e Portugal. Pessoas dos 20 aos 50 e tais. Pessoas da minha idade e pessoas com idade para ser meus pais. E todos eles me trataram com carinho. E todos eles eram pessoas dadas, pessoas que me faziam sorrir, que me faziam de facto quase chorar de rir, que se preocupavam com o meu bem estar, pessoas que me punham à vontade e pessoas que defendiam a igualdade social e que lutavam pelos direitos das crianças, pois era este o tema do training.
Pessoas que usavam vestuário muçulmano e pessoas que não usavam, mas todos eles crentes na sua religião. E eu gosto de pessoas crentes, pessoas que acreditam que existe algo maior do que nós, eu acredito em algo também, eu tenho o meu Deus, eles têm o Deus deles e a minha maior filosofia de vida é que todos se respeitem e se amem, qualquer que sejam as suas convicções, religião, ideologia política, clube, etc. E eles eram (e são) pessoas que se enquadram neste padrão. Amam. Amam e dão a mão a quem precisa. 

O grupo
Numa escola para crianças incapacitadas 
Encontrei nas pessoas mais velhas que eu uma calmaria e uma sabedoria imensa. Um sorriso que me fazia bem. Um olá e uma palavra amiga ou sorriso quando me viam nos corredores. Quero ser assim um dia. Quero ser mais calma. Levar a vida de um modo zen, quero chatear-me menos. Mas também quero não ter mais que me chatear interiormente, de ter estas guerras interiores, que gritam dentro da minha cabeça quando vejo que tudo está mal, quando vejo que as pessoas julgam injustamente pessoas tão boas como estas !
Nas pessoas da minha idade fiz um amigo que trago comigo para a vida. Trago uma moeda que me deu do Egito (dei-lhe uma também), trago tantas e tantas fotografias, trago tantas situações que me fizeram rir, trago momentos. E trago muitos, muitos sorrisos. Ele deu-me um papiro e um chapéu tradicional ! Eu que nem levei nada para dar vi-me perante pessoas que já levavam para oferecer, sem saberem se encontrariam ou não pessoas que as marcassem, mas nós portugueses nunca levamos nada porque nunca achamos que alguém possa "valer a pena". Nós portugueses somos bons em tantas coisas, mas acho que em sentimentos não o somos. Não damos valor suficiente às pessoas. Demoramos tanto tempo a mostrar a alguém que realmente tem valor para nós ! Mas curiosamente foi a equipa portuguesa que conquistou também o carinho dele !
E foi isto que os muçulmanos me ensinaram! - Mais tarde compramos-lhe um colar com forma de peixe, porque uma das piadas que vivemos em grupo começou com um peixe :)

Ele deu-me um papiro e um chapéu tradicional ! 



"...trago tantas e tantas fotografias, trago tantas situações que me fizeram rir, trago momentos"
Eu e a minha irmã com os a Dina e o Mahgoub (dois egípcios)
Pessoal de Portugal, Malta e Egito

Com o nosso amigo Egípcio no Sidi Bou Said

"Mais tarde compramos-lhe um colar com forma de peixe, porque uma das piadas que vivemos em grupo começou com um peixe :)"
O colar em forma de peixe
"E trago muitos, muitos sorrisos"
 Mas curiosamente foi a equipa portuguesa que conquistou também o carinho dele !

"Mas curiosamente foi a equipa portuguesa que conquistou também o carinho dele !"
A moeda do Egito
O Mounir, da Tunísia, ajudou-me a não me perder no mercado de Tunes (na Medina) e comprou-me um prato com o meu nome gravado em Árabe ! - eu, alguns dias mais tarde, pedi ao grupo português que lhe cantasse os parabéns em português, no seu dia de aniversário ! Ele disse que nunca lhe tinham cantado os parabéns, e o sorriso dele valeu a pena :)
"O Mounir, da Tunísia, ajudou-me a não me perder no mercado de Tunes (na Medina) e comprou-me um prato com o meu nome gravado em Árabe !"
O prato com o meu nome, Patrícia, em árabe
A Dina, também do Egito, deu-me um anel ! E eu fiquei de lágrimas nos olhos e sem nada para lhe dar ! A Amira, da Jordânia, deu-me uma conchinha que encontrou na praia e disse-me que era para me lembrar dela ! A Mariem era uma das trainers e era uma mulher cheia de energia e carinho, envolve-se em causas como women empowerment, direitos das crianças, etc e fez-me tanto querer envolver-me em alguma causa que possa fazer a diferença ! Teve sempre palavras amigas para comigo, nos bons e nos maus momentos! Desejou-me que um dia realizásse os meus sonhos, não é mesmo um desejo querido ?
Há gestos tão bonitos ! Não precisamos de gastar dinheiro, às vezes é uma palavra ou um abraço que podem fazer a diferença ! Quem me dera que o mundo fosse mais pacífico e mais equalitário ! Quem me dera que as pessoas na rua se abraçassem mais ! Que sorrisem mais ! Que se entreajudassem ! Conheci tantos Mohamed e todos me fizeram rir, e todos me encheram o coração, então por favor não partam os deles, quando os julgam injustamente ! Por favor pensem duas vezes que religião não promove o ódio !

"A Dina, também do Egito, deu-me um anel !"
Com a Dina :)
"A Amira, da Jordânia, deu-me uma conchinha que encontrou na praia e disse-me que era para me lembrar dela ! "

"A Mariem era uma das trainers e era uma mulher cheia de energia e carinho, envolve-se em causas como women empowerment, direitos das crianças, etc e fez-me tanto querer envolver-me em alguma causa que possa fazer a diferença ! Teve sempre palavras amigas para comigo, nos bons e nos maus momentos! Desejou-me que um dia realizásse os meus sonhos, não é mesmo um desejo querido ?"
Não sei bem explicar qual era o sentimento que tinha no coração quando estava a sair da Tunísia, só sei que no momento em que o avião levantou eu fechei os olhos e agradeci ao "meu" Deus as pessoas que vinham dali comigo, não fisicamente comigo, mas no meu coração. Agradeci o que encontrei lá, agradeci ter finalmente me encontrado e deixei de ser esta hopeless wanderer. Encontrei as respostas a tudo...