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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Medo em Milão

Estávamos ansiosas para visitar Milão, a grande capital da moda.
Ainda me lembro como se fosse hoje do nosso entusiasmo e de tentarmos manter-nos acordadas e bem dispostas após termos chegado ao aeroporto de Bergamo depois de 10 dias num intercâmbio de jovens em Marmaris, na Turquia. Lá o choque cultural foi algum, mas gostamos de tudo o que vimos, das cores vivas, dos mercados, de regatear nos mercados, da simpatia das pessoas, e gostamos tanto mas tanto da comida que trouxemos agarrado ao nosso corpo uns bons 3 quilos extra cada uma. Eu e a minha irmã Lici.

Ao chegar a Bergamo escolhemos uma camioneta que nos levaria ao centro e pensamos nós que a diversão iria ser retomada. Depois desta visita de um dia, o nosso próximo destino seria o nosso lindo Porto, a nossa casinha, onde nos esperariam de braços abertos pais e irmão.

Depois de cerca de meia hora de viagem chegamos ao centro, a camioneta estacionou na estação central de Milão. Embora a chuva nos intimidasse, tentamos manter-nos imunes a ela e seguir caminho rumo ao desconhecido, com apenas um mapa para nos guiarmos. Vínhamos mal habituados da Turquia, onde vivemos um Verão antecipado que chegou em pleno final de Abril. Aqui teríamos mesmo que estar à chuva sem um guarda-chuva ou uma parka. Só nós, a grande sede de explorar uma cidade nova e um cabelo despenteado da chuva.

Os grandes relógios e grandes anúncios a marcas que apenas estamos acostumadas a ver na TV e não no nosso pequeno Portugal cativaram a nossa vista. As rodinhas do trolley da Lici rodavam e rodavam sem parar. Era a sede de ver mais e mais. E o que mais ansiávamos ver era a "Duomo di Milano", a conhecida catedral de Milão e junto a si a Galleria Vittorio Emanuele II com ainda mais marcas super caras e chics, super estilo de filme nova iorquino, super estilo de gente mais rica que nós que tem a possibilidade de entrar nestas lojas a qualquer altura e sair de lá não com um ar desanimado, mas com um saco cheio...

Mas até lá chegar o pesadelo começou. Decidimos não ir de metro e assim poder ver as ruas e as suas gentes, poder sentir os cheiros de Milão, ver as arquiteturas de Milão, as cores das casas, poder dizer que calcamos o seu chão, e também uma desculpa boa para perdermos os 3 quilos que trazíamos a mais. E assim foi. Fomos a pé. E vimos as suas gentes, mas apenas as pessoas mais pobres e sem abrigo. Tantos sem abrigo. Que realidade triste. E a chuva continuava. E o caminho era longo e tantas vezes nos perdemos e havia ruas e ruas vazias, sem ninguém para nos ajudar. Até que encontramos pessoas. Encontramos até muitas pessoas, mas estavam a ser proibidas de entrar em algumas ruas, a polícia parou-nos a nós também. 

Tivemos que pesquisar no nosso pequeno mapa alternativas para chegar à catedral. E chegamos. E pessoas ricas nas galerias, e pessoas menos ricas e mais pobres fora dela. Já não eram mendigos, mas eram vendedores. Vendiam guarda-chuvas e vendiam selfie sticks. Tirámos algumas fotos e entramos no primeiro Mc Donalds que vimos, pois a fome apertava, mas nunca tanto quanto a dor de ver tanta pobreza a contrastar com a riqueza das marcas que vendem em Milão.

No Mc Donalds a nossa vez tardou a chegar, e assim tardou também a comida. Mas chegou. E quando chegou procuramos um lugar e sentamo-nos. Era mesmo em frente à televisão, que bom! Mas a fome morreu mal olhamos para a televisão e um medo invadiu os nossos estômagos e tirou a nossa fome. Era dia 1 de Maio. Era a abertura da Expo em Milão. Eram carros vandalizados, ruas cortadas e em fogo, pessoas a manifestarem-se contra estes contrastes sociais no dia do trabalhador. Ficamos então com medo. Medo de acontecer algo mau, medo de não voltar para aqueles que nos esperavam de braços abertos.

Levantamo-nos, levamos os hambúrgueres na mão e fomos em passo largo até ao metro, as rodinhas do trolley da Lici rodavam com mais força agora. Fomos então de metro para a Estação Central e daí para a camioneta que nos deixou entrar, e já cheia arrancou fora do horário. O medo era geral nos turistas e não só em nós. Chegamos a Bergamo. Passamos lá a noite no aeroporto, era frio mas o facto de ter lá pessoas a sentir as mesmas emoções aqueceu o nosso coração aflito. E no dia seguinte recebemos os nossos abraços. Contamos as nossas histórias de dois países tão diferentes e demos-lhes algumas lembranças. Foi assustador, mas Milão merece uma segunda oportunidade para nos poder mostrar o que de tão bom tem para oferecer :) Nós voltaremos!

(algumas imagens)

"As rodinhas do trolley da Lici rodavam e rodavam sem parar"

"Fomos a pé."
Galleria Vittorio Emanuele II
Uma das lojas super caras da Galleria Vitorio Emanuele II
"Eram vendedores. Vendiam guarda-chuvas e vendiam selfie sticks." 
"No Mc Donalds a nossa vez tardou a chegar, e assim tardou também a comida. Mas chegou. E quando chegou procuramos um lugar e sentamo-nos. Era mesmo em frente à televisão, que bom! Mas a fome morreu mal olhamos para a televisão e um medo invadiu os nossos estômagos e tirou a nossa fome."
"Fomos em passo largo até ao metro, as rodinhas do trolley da Lici rodavam com mais força agora."
"Passamos lá a noite no aeroporto."
"Passamos lá a noite no aeroporto."

"Passamos lá a noite no aeroporto."

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